Outro dia dentro do ônibus, na volta para casa, fiquei ao
lado de um rapaz. No primeiro momento passei direto por ele, pois sua bolsa
estava sobre o assento, no corredor, como que a guardar lugar. Fui até o fundo
do ônibus, todos os assentos ocupados, e decidi voltar para tentar a sorte e
consegui o espaço.
Descobri que ele havia guardado o lugar para uma moça que estava do outro lado da catraca sem bilhete, mas como o cobrador demorou a aparecer, ela ficou presa e assim o rapaz permitiu que ficasse ao lado dele.
Quando a moça se aproximou, ele puxou conversa. Fui
espectadora daquele teatro armado pelo conquistador barato. A primeira e
clássica pergunta foi:
- Você sempre faz esse caminho? – Uma variação daquele “você vem sempre aqui”.
- Sim – respondeu a tímida loira de olhos verdes.
O rapaz que tal qual o pavão estufava o peito, disse:
- Que bom! Espero que possamos fazer esse caminho sempre juntos.
Eu, caros leitores, estava “muito concentrada” na leitura de Madame Bovary, de Flaubert. Mas, aquela moça não era como a Madame Bovary.
- E o namorado, está em casa? – perguntou o nosso galanteador na esperança de que a jovem tímida, delicada e loira de olhos verdes respondesse:
- Não – com risinhos e vermelha pela timidez.
Mas, a realidade foi um pouco mais dura com ele:
- Agora não, mais tarde estará.
O jovem galanteador fechou a cara imediatamente, encostou o
rosto na janela e resolveu que o melhor mesmo era tirar um cochilo para
esquecer o papel de bobo pelo qual acabara de passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário