Encontro você na sarjeta, com a cara na lama, abatido... A um passo de
ser derrotado por seus próprios demônios.
No quintal não há girassóis, botões de rosa,
grama verdinha, apenas cacos de vidro no chão, pontas de cigarro, sujeira,
galhos, garrafas de vinho barato, latas de cerveja, folhas secas do outono que
virou a sua alma.
Nem a morte te assusta. A morte, aquela cadela
sem dentes que lhe sorri e estende os braços acolhedores. Ela ri da sua fraqueza,
do seu jeito idiota de ser só para impressionar amigos que o consideram
descartável, pessoas que não merecem nem o abraço bêbado que você dá. A ânsia
por aprovação tomou conta do seu ser. Quem é você de verdade? O que os outros querem
ou o que você quer ser? Por enquanto, é apenas um produto vencido numa
prateleira empoeirada por amizades que sugam sua verdadeira essência.
No dia que a morte novamente estendeu os
braços, você quase caiu nas garras dela. Um “bom amigo”, parceiro mesmo,
ofereceu um “bagulho bom” e esse “treco” quase arrancou seu espírito e fez você
viajar até a metade da luz, mas você ficou sério, teve coragem para lutar e não
sorriu para a morte.
Recolheu as folhas secas da amargura, solidão,
vitimismo, a demasiada importância da opinião e aprovação dos outros,
falsidade, desilusão, expectativas demais, cobranças duras sobre si, cigarros,
drogas, bebidas, traumas, mentiras, dramas e todos os tipos de sofrimentos que
há na vida. Recolheu tudo, jogou álcool, o fósforo, e queimou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário