Eu era jovem demais e ela não queria ler o meu destino.
Dizia que era muito perigoso para uma criança saber tanto sobre o seu futuro.
Acredito que ela ainda não vislumbrava os meus horizontes, pois ainda não
traçara um caminho próprio na vida.
A cartomante nunca cobrou pelas consultas feitas na sala de
estar, nem pelos cafezinhos servidos à clientela na cozinha ou as simpatias
feitas sob a luz do luar no quintal. O cheiro das plantas com as quais
preparava seus banhos continua na memória e os patuás que costurava com tanto
cuidado jazem em alguma caixa perdida no guarda-roupa.
Quando cresci, na adolescência, continuava a pedir que ela lesse o meu destino naquele baralho comum, mas nunca fez a leitura comigo tão a sério quanto aos outros. Dizia, com sua voz rouca, que via um rapaz louro na minha vida... Ele nunca apareceu e essa descrição era mais uma das suas brincadeiras sobre o meu futuro.
Agora, depois de tanto tempo, percebo que é melhor não saber demais sobre o futuro, ele é apenas uma tela em branco onde projetamos o mundo como gostaríamos que fosse. O amor nos moldes desejados, a solução dos nossos dilemas, a paz em meio ao caos. O futuro é como uma ilusão que apenas o presente pode tornar real.
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