Dora levantou-se bruscamente do sofá e como uma nova mulher disse:
- Sabe o que eu vou fazer com o cafajeste do Mário? Expulsá-lo daqui! Ele não levará sequer as roupas do corpo!
- Agora... Paulo, leve o guarda-roupa para Vilma e lhe entregue este bilhete – estendeu o papelzinho para Paulo e este o colocou no bolso da camisa.
Encaminharam-se para o portão e quem eles encontram abrindo o cadeado? O Mário. Voltaram correndo para dentro e Dora disse:
- Paulo, há uma porta na cozinha que dá para os fundos da casa, se você pular o muro sairá na rua de baixo.
Boa sorte! Beijou-lhe o rosto e voltou para a sala.
Paulo seguiu pelo corredor, abriu a porta, pulou o muro e saiu na rua de baixo. Não demorou muito para subir a ruazinha e fazer a curva, onde voltou para seu ponto de destino. De longe ele pôde ver que a caminhonete não estava mais lá.
Quando abriu a porta, Mário foi surpreendido com um beijo apaixonado da mulher, que muito calmamente disse:
- Hoje teremos uma noite muito especial! –
A seguir, ligou para um restaurante e encomendou: “stroghonoff” para dois ,uma garrafa de vinho do Porto e, é claro, peru assado. Arrumou a mesa e mais à noite acendeu as velas.
Mário observava tudo atentamente e Dora era só sorrisos para ele, que pensava:
“Romântica como sempre, presa fácil, tola, apaixonada” Mal sabia ele das intenções da mulher.
Dora e Mário usavam seus melhores trajes, tudo por uma ocasião especial.
As encomendas chegaram. Havia também trovadores e um garçom, criando assim um clima muito romântico.
- Mas para que tudo isso? Perguntou Mário – saboreando o vinho.
- Me deu vontade de te agradar, meu amor – respondera Dora, interpretando muito bem o seu papel.
Depois do jantar, dispensaram os trovadores, o garçom, apagaram as velas e subiram para o quarto. Com muita calma, Dora despiu o marido, quando ele tentou fazer o mesmo ela se desvencilhou, propôs servir um drinque a ele, que já estava debaixo das cobertas, como gostava de um aditivo à sua performance na cama, aceitou.
Ela preparou dois conhaques, um para si e o outro para Mário, carregado de sonífero, que ela geralmente usava. Voltou para o quarto, aproximou-se da cama e estendeu o copo à ele, que sorveu o drinque em um gole. Ainda tentou agarrar Dora, mas caiu no sono.
Depois que Mário dormiu, Dora pegou o telefone e ligou para os seguranças e fiéis amigos, Júlio e Haroldo, que prontamente responderam ao chamado, apesar de já passar das vinte e duas horas.
Nesse ínterim, ela pegou todas as coisas do malandro: camisas, calças, sapatos de couro, ternos, gravatas, RG, CPF, carteira de trabalho, perfumes, enfim, tudo o que era dele foi para dentro de um grande latão no fundo do quintal. Dora embebeu tudo em querosene e de uma distância segura, ateou fogo, dava para sentir o cheiro dos perfumes,
Os seguranças chegaram, tocaram a campainha, Dora abriu o portão, seguiram até o quarto, Júlio pegou as pernas do malandro e Haroldo os braços, levaram-no até o suposto carro quebrado, colocaram o malandro no porta-malas e, bem propício para ele, partiram para a zona leste.
Pararam em frente a uma praça, cheia de brinquedos, na Avenida Catuaba, a madrugava chegava e trazia consigo o frio. Estava tudo deserto. Depositaram o corpo nu dentro de um tobogã no parquinho e foram embora levando o carro.
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