Era uma tarde chuvosa em São Paulo, aproximadamente quinze
horas com cara de dezessete. Tempo feio. Guarda-chuvas para uma chuva sem
vergonha que nem merecia tanto alarde. Descia a Rua Quinze de Novembro a
caminho do terminal Parque Dom Pedro e uma cigana me parou e disse:
- Você tem uma amiga falsa e eu não vou cobrar nada para
revelar o nome dela.
Uma amiga falsa? Isso é um pouco vago não é? Tenho poucos e selecionados amigos que estão comigo a muito tempo e não era possível que houvesse um lobo em pele de cordeiro entre eles. Não vai cobrar nada? Já comecei a desconfiar da veracidade da cigana.
Ela segurava a minha mão e passava os dedos pelas linhas como quem tem um mapa nas mãos. Depois começou a questionar os valores que eu tinha no bolso.
- Eu sei que você tem cinco reais aí!
- Não, não tenho.
- Ah! São vinte, eu tenho troco.
- Realmente não ando com dinheiro.
Ao ouvir essas últimas palavras ela soltou a minha mão. Mas, quando tentei me desvencilhar das garras daquela mulher, novamente a cigana cruzou o caminho e perguntou:
- Você tem cartão de crédito não tem?
- Não.
Nossa... Até cartão de crédito as ciganas aceitam hoje em dia. Finalmente ela desistiu. No bolso direito da calça estava o cartão e aquela mulher que parecia conhecer a minha vida, destino, valores, personalidade e círculo de amizades não descobriu a mentira deslavada que contei. Não
era vidente de verdade, pois poderia contradizer as minhas palavras.
Outras ciganas assoviavam e tentavam agarrar minha mão, mas escapei e fiz o meu próprio destino, afinal as escolhas estão sempre no presente e isso aquela mulher não era capaz de adivinhar.
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